É semana santa. É impressionante como o feriados surtem mais efeito na gente quando a gente é criança. Não, eu não voltei pra casa com orelha de cartolina e de bigode pintado, uma pena.Além disso, semana santa me lembra que antigamente eu participava de todas as cerimonias da igreja e adorava. Ficava encantada com a encenação da paixão de Cristo que ocorria na Catedral de minha cidade e adorava participar das procissões, mas morria de medo de queimar alguém com a vela. Eu era uma criança que ia muito na igreja, não que eu fosse religiosa, mas eu ia muito.
Quando eu era pequena meu sonho era ser coroinha porque o coroinha tem uma posição muito especial. Ele fica ali na frente, é o centro das atenções, todos esperam a hora em que ele baterá o sino quando o padre se ajoelha. Resumindo, o coroinha aparece e eu amava aparecer. Nunca fui coroinha, na verdade nunca tentei. Acho que se tivesse expressado esse desejo minha mãe daria um jeito para que eu fosse porque não teria orgulho maior pra ela que a filha participando ativamente das atividades da igreja.
Nunca fui coroinha, mas já participei da coroação de Nossa Senhora, mas nunca fui a mais importante da coroação. Sim, porque há uma hierarquia na coroação de Nossa Senhora. A mais importante é a menina que coloca a coroa, geralmente a menina mais bonita, pelo menos quando eu fui era assim. Há as outras meninas que colocam outras coisas na Nossa Senhora e outras meninas que mais inferiormente ainda só cantam no coral. Eu, no caso, o máximo que cheguei foi uma vez, uma única vez, colocar a flor cantando em um solo "Tão linda, tão bela, recebe essa flor".  Não, Luíza, eu não guardo rancor das coisas, não tenho culpa de minha memória ser tão boa. Na verdade, eu nem sei como me deixaram ser a flor porque eu sempre cantei tão mal. Enfim, achei o máximo que naquele momento, naquela mínima frase, todas as atenções da igreja estavam voltadas pra mim.
Quando eu era criança também participei do coral da escola e não era nada como Glee. Até porque se fosse jamais seria aceita no coral. Na verdade acho que Deus não me deu esse dom porque se eu soubesse cantar eu seria insuportavelmente aparecida.Mais insuportavelmente.
Gente, a igreja é um ótimo lugar pra aparecer. Já cantei no coro da igreja só pra aparecer. Minha mãe lê na igreja desde que eu me entendo por gente e quando eu era criança eu ficava sonhando com o dia em que aprenderia a ler bem só para ter aquela atenção pra mim. Outra coisa que minha mãe sempre fez foi gritar "Então como é que é" na hora do parabéns, na verdade é mais como "Então cumé qui é". Gente, eu achava que minha mãe em alguma data, por algum motivo muito especial tinha sido a escolhida para gritar essa parte no parabéns, porque era sempre ela que gritava. E eu achava o máximo ser filha da moça que gritava no parabéns. É sério.
Eu já inventei peça de teatro para aparecer. Roteirizei, ensaiei, organizei e apareci. Já inventei apresentações de danças que nem estavam no calendário escolar só pra aparecer. Já cantei no coro da igreja só pra ficar lá na frente e aparecer.  Mãe, isso é doença, eu era uma criança problemática, por que você não me tratou? E hoje me dizem: A Laiz? Extremamente tímida. O pior é que em alguns casos, inexplicavelmente, eu sou mesmo. Mas deixa de assunto para um próximo texto.

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