Depois de uma noite inteira tentando dormir finalmente consegui, por meia hora pelo menos. Acordei com minha mãe pegando o cachorro que havia dormido escondido no meu quarto por causa da chuva. O Tico morre de medo de chuva, nosso coração mole não permite que ele durma lá fora. Pena que meu pai não tem o mesmo coração então quando ele dorme aqui é aquela correria pra colocar o coitado pra fora antes que o papis acorde. Essa correria toda me acordou. Enrolei um pouco na cama e fui para a cozinha onde minha mãe preparava o café. Toda vez que falo em café penso na Rita Baiana do cortiço e sua bebida fumegante (adoro essa palavra) com cachaça que colaborou para que Jerônimo, português que trocou o bacalhau com batata pela feijoada e o vinho pela cachaça abrasileirando-se, se apaixonasse. Olha gente eu prestei atenção nas aulas de Literatura. Faz eu pensar também que mais fumegante que a bebida só o rabo da Rita Baiana né? Desculpa gentchi, mas não resisti, tive que fazer esse comentário. Enfim, tomei o café, conversei sobre coisas variadas tentando distrair, em vão. Quando você tá preocupado com algo não importa o quanto você tente não pensar naquilo, você vai pensar só naquilo. Peguei o computador e comecei a escrever coisas aleatórias que vieram na minha cabeça e não me deixaram dormir. Desisti e fui tomar banho.


Peguei todas as minhas coisas e levei para o banheiro, assim não teria que sair de toalha no frio que estava. Entrei no chuveiro com escova e pasta de dente, pelo menos achei que tinha levado isso. Quando olhei para o lado, surpresa, tinha acabado de carregar meu desodorante para dentro do Box. São bobeiras assim que me fazem pensar: tem algo errado, Laiz. Aí que começou o desespero se eu não tava dando conta nem de levar as coisas certas para o chuveiro imagina o que faria em um exame prático de direção. Em segundos passou um flashback na minha cabeça. A psicóloga que não falou que eu tinha passado e sim apenas: boa sorte. Fiquei lá aflita esperando resposta, não conheço ninguém que já tenha reprovado no exame psicotécnico. As duras e insuportáveis 45 horas de teórico juntamente com minha idéia de membros removíveis já postada aqui. Não entendia porque tinha que ter aula de mecânica se existe um profissional para isso e que na hora do desespero nunca que eu vou conseguir fazer alguma coisa mesmo. Nem de meio ambiente para aprender coisas que já tinha aprendido na escola em uma versão muito mais complexa. Não entendia porque tinha que fazer coisas que só na auto-escola se faz como parecer um passarinho bobo dando sinal de braço. Mas o grande dia chegou e agora eu não podia pensar o quão ridículo isso era. Tinha que fazer, sem reclamar e pronto.

Sai do banho, coloquei roupa, peguei o computador de novo, escrevi mais coisas sem sentido, tentei ler um livro e decidi que era melhor ir logo. Fui. Quando a gente tá em lugares assim onde você não conhece ninguém qualquer pessoa um pouco conhecida vira melhor amiga para sempre. Fiquei lá aflita esperando, vendo as pessoas errarem e suas caras de decepção. Enquanto isso a melhor amiga falava muitas coisas que eu fingia compreender quando de novo mal prestava atenção.

Lá fui eu. Feliz por não ter pegado o mais temido deles, mas apavorada, uma pilha de nervos e com sono. Deixar o carro morrer é a maior falta de atenção do mundo. Isso não reprova, perde ponto, mas não reprova. Eu já tinha perguntando isso uma vez. Meu pai sempre preocupou com isso- Carro velho que morre. Tem que ver que que você ta aprontando_ É para isso que pai serve nessas horas mesmo. Pergunta se alguma vez ele me colocou no carro e tentou me ensinar algo? Não to falando sair comigo dirigindo só que eu entrei na auto escola sem saber ligar o carro, muito menos trocar marcha. Não sei da onde tirei forças para continuar. Baliza na subida? Perfeita. Rampa de ré? Idem. Eu não podia ir embora assim e feliz, tinha que barberar mais um pouquinho e por isso fiz a conversão à direita muito aberta. Pronto, reprovada. Ele não me chingou, não me bateu, mas pegou aquela caneta horrorosa vermelha e escreveu no meu papel, reprovada. –Dessa vez não vai da não-. Maldita conversão, maldita caneta, maldito nervosismo, maldita Laiz que não quer assumir que é um desastre na direção. Eu sou um desastre. Laiz no volante, perigo constante e o pior, foi comprovado. Saí do carro com cara de bico. Odeio fazer cara de bico porque fico parecendo aquelas crianças mimadas. Tem hora que não consigo segurar o bico. Alias, eu sou bem assim com minhas expressões. Não as controlo. Quando sinto nojo faço a pior cara do mundo, não consigo esconder quando estou brava ou quando algo me chateia. Sou muito expressiva, quando menos espero lá está uma das minhas sobrancelhas grossas e arqueadas levantadas. Não queria falar com ninguém, nem olhei na cara da ex melhor amiga. Entrei no carro para vir para casa e não ouvi uma palavra de consolo.Tive que ouvir coisas como: - Carro velho que morre. Tem que ver que que você ta aprontando_Não vai dormir agora não, fica acordada a noite vai entra em depressão._ Pai?_ O que?_ Sua conversão à direita. Ficou muito aberta.

2 comentários:

Maurin disse...

gostei da cara de bico, qualque dia vc me mostra ela??? hahaha

Belle disse...

Adorei o começo que fala do cortiço!!! sempre lembro desse livro!
boa sorte no próximo exame!!!