A cena ocorre em um quarto com pouca iluminação, há muitos curiosos no local. Uma menina está sentada na penteadeira enquanto a mãe coloca em sua cabeça um véu. Todos olham admirados, ela olha para o espelho e a imagem refletida chora. Uma criança de 8 anos vestida de branco. A menina era eu, eu em um pesadelo de infância no qual todos os meus familiares, das avós às tias e primas mais distantes me obrigavam a casar.  Imagina que pesadelo seria pra uma criança que não consegue ficar longe da mãe nem por uma noite, casar? Foi então que nessa fase de infância adquiri pânico no lago de casamento. Engraçado é que quando tinha uns 4, 5 anos minha vó sempre casamenteira que foi já brincava me questionando sobre a data e eu dizia em alto e bom tom: 10 anos. Claro que isso é consequência daquela típica falta de noção de idade que a gente tem quando criança, nada a ver com eu ser precoce ou algo do tipo.

Hoje sou apaixonada por casamentos. Acho lindas as festas, as decorações, as fotos, os vestidos, as músicas, tudo que deve ser planejado nos mínimos detalhes. Sério, eu já escolhi meu vestido há dois anos enquanto visitava um blog de moda bem conhecido. Gostei logo de cara e já saí mostrando pra todo mundo feito louca mesmo: Já escolhi meu vestido de casamento, quer ver? Claro que vou mudar de ideia daqui um tempo e escolherei outro e depois outro e assim sucessivamente.  Um tempo atrás acordei com uma música perfeita de um filme favorito daqueles que nunca sairão de moda e pensei: Será essa a música. Teve uma época que falei tanto de casamento que disseram que eu deveria estar querendo casar. Não tem nada a ver porque  já escolhi também o nome dos meu filhos e nem sei se eu quero ter filhos. A gente simplesmente tem mania de planejar essas coisas que podem ou não acontecer em um futuro distante. É bem mais fácil planejar coisas distantes que planejar soluções para problemas simples da vida como, por exemplo, estudar pra prova da semana seguinte. 
Eu não tenho pânico de casamento como na infância, mas também não quero loucamente casar. Não imagino que alguém além da minha mãe e irmã possa me suportar tanto tempo. Não imagino também como suportar alguém com quem não convivi muito até aqui e que terei que conviver tanto. É muito complicado pensar nisso. Conversa de gente encalhada também, sabe? Daqui uns anos posso aparecer aqui na maior cara de pau e negar tudo isso. Enquanto não acontece prefiro continuar pensando nos vestidos, decorações, músicas e quem sabe um dia não caso de mentira? Faço uma festa de casamento sozinha, não divido a atenção com ninguém, meu bonequinho do bolo terá todo o espaço do mundo e mato minha vó de desgosto. 

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Esse ano o dia primeiro caiu na segunda exatamente depois do feriado de páscoa. Esse “fenômeno” aconteceu também uma vez quando eu era bem criança. Passei um ótimo feriado na fazenda com direito a muitas brincadeiras, comilanças. Não dá tristeza pensar que naquela época se não quiséssemos ganhar quilinhos a mais era só fazermos aquilo que mais gostávamos? Brincar, brincar até não agüentar mais. E se a gente fosse gordinha também pelo menos pelo mundo dos adultos éramos considerados fofinhos. Os mesmos adultos da família que hoje nos julgam pelos quilos a mais ou comentam que se continuarmos assim jamais arrumaremos namorado. Voltando ao assunto do feriado, voltamos na segunda 6h da manhã, pois teríamos aula às 7h. Estava bem frio e chovia um tempinho excelente para ficar na cama e dormir, era isso o que mais queria fazer já que não há nada melhor que dormir quando não se pode. Eu lá sentada no sofá, enrolando para entrar no banho enquanto meu pai retirava as malas do carro. Reclamei que não queria ir na aula só por ser reclamona mesmo, sem esperança, mas tive uma surpresa.  Ele disse:  Você não precisa ir, a diretora ligou falando que não tem aula por causa da chuva. Foi a melhor notícia do mundo. Fui correndo para o quarto, colocar pijama e dormir. E então ele chegou rindo da minha cara e dizendo: Primeiro de Abril. E esse foi meu primeiro contato real com essa data.
Na verdade quando era bem menor ainda já tinha tido contato com brincadeirinhas bobas, tão bobas que nem faziam sentido. O legal era apenas contar uma mentira como falar que o nariz da pessoa estava sujo e esperá-la verificar para depois rir. Depois quando eu era adolescente a graça era inventar pra minha mãe que eu estava grávida só pra ver a cara dela. Tipo, oi? Só que esse ano o primeiro de Abril foi uma chatice, no domingo eu já me preparei para que ninguém me enganasse na segunda. E na segunda a moda não era contar a mentira e esperar que o outro caísse. O legal no facebook era falar que estava preparado para não ser enganado, que isso tudo era uma bobeira ou que o dia da mentira já foi bem mais legal, é exatamente o que estou fazendo aqui. Quantos quês, gente.
Isso me leva a outro assunto. Segundo alguns queridos professores estamos na época do mimimi e se formos parar pra pensar estamos mesmo. O ser humano é um eterno insatisfeito e parece que na rede social essa insatisfação está cada vez mais divulgada. Reclama-se pelo simples fato de reclamar e é óbvio que sou uma delas, sou uma das rainhas do mimimi. Inclusive tenho infinitas reclamações sobre a convivência facebookiana, mas vou deixar pra uma outra vez. Uma delas é a velocidade das informações. Um assunto que hoje de manhã é novidade à tarde você já não agüenta mais ouvir falar. Tenho um amigo que diz que acha que mais que “não curtir” o botão fundamental do facebook seria um “já vi”. Imagina que cortação de barato seria? Quer uma prova da velocidade das informações aliada ao mimimiísmo? O preço do tomate que em um dia era assunto geral, todo mundo comentando, virou até meme e no outro dia a moda era reclamar das pessoas que reclamavam do preço do tomate e hoje o assunto é reclamar das pessoas que reclamaram das pessoas que reclamavam e assim sucessivamente. Como diriam outros amigos zuando: “Achei ofensivo. Apaga.”
ps: não duvido que alguém reclame do tema do meu texto ser mimimi já que tanta gente já falou disso =\



Texto publicado atrasadíssimo aqui.
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