Criança adora ser do contra. Eu por exemplo, era daquelas crianças bem chatas que não havia meio de fazer aquilo que minha mãe pedia. Um dia ela descobriu que se me pedisse justamente o contrário eu faria exatamente o que ela queria. Começou dizendo que eu estava proibida de tomar banho então, eu fiz uma birra dizendo que queria tomar banho e no final das contas eu tomei mesmo. Digamos então que eu gostava de ser rebelde, gostava de "viver perigosamente". Criança não gosta de dar o braço a torcer e é assim que eu começo o que eu quero contar.
Minha vó uma vez me deu um belo conjuntinho de natal era uma blusa, um short (não consigo falar shorts, acho muito estranho) e um coletinho aberto que ia por cima da blusa, uma gracinha. Se tem uma coisa que minha vó adorava me dar quando criança eram conjuntinhos. Um dia eu tinha um encontro da catequese e resolvi usar o conjuntinho. Sabe como é criança né? Falou que vai sair da sala de aula e tudo vira festa. Fui eu toda feliz e orgulhosa com minha roupinha, achando que tava abafando quando uma amiga disse alto para todo mundo ouvir. “Nossa Laiz, eu tenho um pijama igualzinho a esse que você está usando”. Não existe nada mais sacana que criança. Eu morri de raiva, queria sumir, morrer, matar, bater e cheguei até a me imaginar em cima da menina no chão de terra batida e com o chumaço de cabelo nela nas mãos como um prêmio, mas passou e ao invés disso eu disse:  “Então você usa roupa como pijama porque isso é uma roupa.” A menina disse que tinha certeza que era pijama e eu como não podia dar o braço a torcer, continuei teimando que não era, disse inclusive que eu quem  fui comprar pessoalmente e que a vendedora jurou que aquilo era roupa. Uma total mentira, minha vó que havia me dado, e eu nem cheguei a ver a tal da vendedora, mas era a minha vida social que estava em jogo. Se todo mundo soubesse que eu estava de pijama eu seria zoada por aquilo pelo resto da vida, criança é fogo.  
Eu acho tudo isso uma grande bobeira, por mim hoje em dia eu saia de pijama pela rua porque acho a coisa mais confortável que tem. Todo dia quando eu chego em casa troco minha roupa por um pijama gostoso. Mas quando eu era pequena a maioria dos meus pesadelos era de que eu estava na escola de pijama, ou pior ainda, pelada. Aquilo sim era pesadelo, acordava toda preocupada. No final das contas eu com meu poder de persuasão infantil convenci  a todos de que estava certa e a menina ainda passou de mentirosa. E quando cheguei em casa enfurecida fui perguntar pra minha mãe do misterioso conjunto e como resposta recebi um silêncio constrangedor. Nunca mais usei aquele... pijama. 

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