Quando eu era pequena toda vez que ia na padaria ficava de olho naqueles doces lindos da vitrine. Eram brigadeiros enormes, potinhos coloridos com vários cremes dentro ou bombas de chocolate. Eu não era muito birrenta, graças a deus minha mãe soube me educar muito bem. Educação é uma coisa que se não é dada na hora certa depois nem tem mais solução. Mesmo assim ás vezes eu pedia um docinho e ás vezes ganhava. Muitas vezes o resultado não era nada bom e a brincadeira terminava em careta. O brigadeiro não era brigadeiro, mas um mingau de maisena (maizena é a marca), o creme era um puro chantili adocicado e  colorido e a bomba era molenga.
Então eu comecei a pensar muito bem antes de pedir. Comecei a analisar os doces, procurar referências, perguntar antes e até a ter doces preferidos que sempre eram repetidos. É claro que estes também me surpreendiam, nada é perfeito, mas se faziam era com uma frequência bem menor. Digamos que com o tempo aprendi a escolher doces. Depois que cresci aprendi que algumas pessoas são como doces de padaria e do pior tipo, aqueles que nunca vou aprender a diferenciar até errar. E quando se trata de pessoas.. não há careta que resolva o problema. 

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Se tem um evento social que eu não gosto de jeito nenhum é o velório. Sempre fui ao velório por obrigação, até porque graças a Deus nunca perdi alguém muito próximo. Acho que a obrigação de ir ao velório é uma das coisas chatas do mundo dos adultos. Quando eu era pequena eu falava que não queria, que tinha medo e pronto.
Outra coisa muito chata do mundo dos adultos é encontrar pessoas que você conhecia quando criança e depois perdeu o contato. Um caso que pode acontecer é aquele clássico mimimi de como você cresceu, mas não é o pior caso. Pior é quando você encontra a pessoa, mas ela não te reconhece. Sabe do que estou falando? Você cresceu, está mudado, a pessoa não reconhece, mas pra você ela ainda é a mesma coisa e por isso acha um absurdo não cumprimentar. Pior ainda é quando é homem, você cumprimenta e ele te olha com aquela cara de: que que essa menina tá dando em cima de mim? Pessoas que você conhecia quando pequeno e fica tempos sem ver, tornam-se semi conhecidas, aquele tipinho que você tem pânico de encontrar já que nunca sabe o que fazer. Isso me lembrou minha irmã que comentou esses dias que tem gente que é tão chata que ela tem vontade cumprimentar com um tchau ao invés de oi. Seria cômico se não fosse trágico.
Voltando ao velório. Uma vez minha mãe pediu para que eu fosse a um com ela prometendo que eu não veria o corpo. Quando chegamos lá ela foi cumprimentar a amiga e me puxou pelo braço junto. Eu tentei não olhar, mas vi e tinha algodão no nariz. Foi meu primeiro contato traumático com velório. Mais tarde no velório da mãe de uma professora, tive um dos maiores ataques de riso da minha vida, foi muito triste. Eu tenho esse problema com ataque de riso desde muito tempo atrás, deixo como assunto pra outro texto. Acho que todo mundo tem uma história estranha ou engraçada para contar de velório. Minha vó já tentou arrumar namorado pra mim em velório e já inclusive me mandou frequentar mais velórios para ver se encontro alguém. Minha avó não sossega enquanto não me ver lindamente casada. Pelo menos o vestido MARAVILHOSO eu já escolhi.
Acho que o pior do velório são as pessoas vivas. Primeiro que tenho aflição de gente chorando perto de mim, eu nunca sei o que fazer ou falar, fico extremamente sem graça. Isso acontece em qualquer situação só que no velório o pranto se intensifica de tal modo que eu fico incomodadíssima. E como tem gente que gosta de mostrar que tá chorando.... Eu odeio que me vejam chorando, fico muito feia credo. Já chorou olhando no espelho? A vontade passa na hora, a não ser aquele tipo de pessoa que gosta de sentir pena de si mesmo. As pessoas estão certas de chorar, já falei sobre isso, tem que esvaziar o balde transbordado de emoções para só então ter um baldo livre. Pior mesmo é quando você sente e não consegue chorar, coisa que acontece quando a tristeza é tão intensa que não há como externar. Minha vó tem isso, ela diz que quando sua mãe morreu ela chorou tanto que suas lágrimas secaram. Minha vó nunca mais voltou a chorar.
Outra coisa comum é que velório vira evento, as pessoas conversam de tudo, encontram aqueles que não viam há tempos, colocam o assunto em dia e fofocam, como fofocam... Se quiser saber o que está acontecendo na cidade, frequente velórios, de preferência de gente rica que são os que mais enchem de gente, inclusive daqueles que meteram o pau a vida inteira, mas estão de olho em algo e daí o sujeito vira santo. Velório de gente rica gera tanto boato, aparece filho bastardo de todo lado. Conheço gente que todo dia de manhã passa no velório pra ter assunto para o dia inteiro, cidade pequena é engraçado.
Eu não quero ser velada. Eu sempre tento avisar isso a minha família e minha mãe sempre desconversa falando que não quer tocar no assunto, mas acho tão necessário. Eu não quero aquela flor fedida em cima de mim, não quero aquele paninho que dá aflição e até hoje vi poucas coroas de flores bonitas, elas me chocam. Nunca quero ver meu nome escrito em uma, significará que alguém muito querido me deixou. Já deixei avisado também que não quero gente que não gosto lá, pelo amor de deus tá tarde demais pra tentar pedir desculpa, deixa meu corpinho(hahahaha) em paz, fora que não quero ser vista daquele jeito, pessoas que a gente não gosta tem que sempre ver a gente por cima.  Mas uma coisa que tenho curiosidade é fazer igual em filme, lançar o boato falso de que morri e ver a reação das pessoas. Quero saber quem chorou, quem se importou, quem consolou quem eu gostava, mas principalmente quem me deixou recado no facebook. Vou passar minha senha para minha irmã responder os recados, chamar o povo no bate papo e dar um sustão. Que o céu tenha facebook e instagram, porque se tiver instagram tem comida boa. Assim seja. Amém. 

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Eu tenho uma doença grave e crônica. Não sei se é um problema físico ou mental, acho que os dois juntos, mas é grave, muito grave. Essa doença já me impediu de ir a muitos lugares e fazer muitas coisas. Já me fez perder pessoas que se diziam amigas e até peguetes que por conta dela jamais chegaram a namorados. É triste, mas eu simplesmente a tenho e não tenho como me livrar. É difícil encontrar alguém que aceite essa doença, talvez apenas pessoas que a tenham ou que possuam pelo menos algum dos sintomas. Meu vô, por exemplo, me aceita muito bem, acha até bom porque com essa doença eu me enquadro muito bem dentro das morais e bons costumes que a sociedade manda.  Para minha vó, uma senhora muito a frente do seu tempo em alguns aspectos, eu ter essa doença é meio que inadmissível, com ela vai ser difícil eu realizar todos os sonhos não realizados por ela, mas que ela projetou em mim.
Muitas vezes não tenho vontade sair. Ou até tenho uma vontadezinha, mas a preguiça de tirar o pijama, escolher roupa e passar maquiagem supera qualquer vontade. Ou até dá vontade passar maquiagem, mas e chegar bêbada e tirar? Ou não tirar e acordar no outro dia fantasiada de panda e com o olho todo ardendo pela invasão de agentes estranhos. Dá preguiça só de pensar. Chegar na balada, beber alguma coisa, andar, procurar não sei o quê e nem pra quê e se o quê for totalmente desinteressante? Ah que preguiça, que perda de tempo.
Que bom é poder ficar o dia inteiro de pijama e meia. Tomar um banho e voltar a colocar pijama. Lençol fresco, um bom livro ou quem sabe dormir o dia inteiro. Filmes e seriados, pipoca e edredon, quem sabe um pudim ou brigadeiro? Abraçar a mãe, o cachorro, não preocupar com o relógio. Sair pra ir ao cinema, uma voltinha na praça, um sorvete na casquinha ou não sair pra nada. Desculpa, sociedade. Eu tenho velhice precoce. Eu tenho uma doença que é uma delícia.

 

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